“Ah, amigo, mas gay é assim mesmo. É mais promiscuo. É muito difícil haver fidelidade. Dá pra confiar? Esse mundo gay é assim: ninguém sabe ser de ninguém”.
Ouvi de um amigo que recém começou um relacionamento homoafetivo sério com outro rapaz e que, a até onde eu sei, é fiel.
Mas o que, sendo ele fiel, o faz acreditar nisso?
“São homens. E os homens são promíscuos por natureza”, responde ele.
É uma afirmação, no mínimo, duvidosa.
É do mesmo lote que define o espaço privado às mulheres – casa – e o público para os homens – trabalho.
Do mesmo que diz que a mulher é naturalmente programada biológica e psicologicamente para ter filhos.
Da mesma leva dos que dizem que a mulher tem de se guardar até o casamento, quando não, casar com o homem com quem perdeu a virgindade ou ter relações sexuais com o menor número possível de parceiros; enquanto os homens, ao contrário, devem começar a vida sexual o mais cedo possível e ter o maior número de parceiras que puder.
Ah! É a cultura, dirão uns.
Sim é a cultura. E daí?!
Cultura vai além de um sistema fechado e acabado de costumes pelo qual vivemos a vida, do qual fazemos parte e ao qual devemos rigorosamente seguir. É objeto de intervenção humana. Portanto, sujeita a construção, descontrução e reconstrução.
E nestes casos a cultura serve para naturalizar, justificar e manter desigualdades.
Sem perceber, esse meu amigo justifica o porquê de muitos não entenderem as relações homoafetivas enquanto tal, negando-lhe o direito ao casamento e ao reconhecimento legal de família.
Ora, se os gays são movidos a sexo, não podem chamar seus encontros sexuais de casamento. São apenas relações sexuais, despudoradas e desviantes.
Fiz um levantamento sem qualquer rigor científico e posso afirmar categoricamente: dos que conheço, existem mais homens héteros com casos extras que homens gays. Dos próximos a mim, os gays são mais fieis aos seus namorados que os héteros às suas mulheres – espero não estar comprometendo ninguém.
E, mesmo assim, ninguém questiona, o reconhecimento de família entre um homem e uma mulher – por mais infiel que seja.
Sim, existem gays mais exacerbados sexualmente. Como também existem héteros. Digo mais: como também existe mulher. Que mulher direita, “pra casar”, é menos interessada por sexo, como em alguns momentos até a ciência corroborou, não passa de mito.
Portanto, meu amigo, não se deixe levar por mitos.
Que homens héteros traem, é verdade; que homens gays traem, também verdade; que mulheres heterossexuais ou não traem, idem. Como o contrário também ocorre. Não existe nenhum determinismo nesse caso – como quase em nenhum.