A "saída do armário" é geralmente um acto voluntário.

25-12-2011 19:00

 

Em uma cidade entorno do Distrito Federal, cansado de viver escondendo de mim mesmo, resolvi sai da casa dos meus pais e viver sozinho, trabalhar estudar e aprender com o dia a dia. Assumindo mais que a responsabilidade de ser dono do meu destino, então assumi que estava na hora de decidir quem eu era realmente, me descobrir como pessoa. Muitos conflitos comigo mesmo, muitas duvidas, desejos que não eram comuns e certos bloqueios, me faziam retrair sempre que tomava coragem para impor minhas vontades, meus desejos, então me fechava dentro de mim mesmo e as duvidas e medos continuavam a me assombrar.
Aos dezesseis anos de idade meu pai um dia me cobrou uma coisa que seria comum e corriqueira para qualquer adolescente daquela idade. Questionou-me por sentiu a falta de amigos, amigas e até uma namorada. Disse que com mesma idade ela já havia sido noivo e eu ate então nem mesmo uma namorada havia tido. Neste momento comecei a dar importância a um tema que até então não tinha si quer analisado, pra mim era normal não ter ninguém. Sempre trabalhei muito com meu pai na oficina, estudava, ajudava em casa nos afazeres. Era tudo tão normal, não tinha que mudar nada, estava bom assim.
No ano de dois mil eu fui morar com uma tia, ali em meio a conversas e brincadeiras certo dia ela me cobrou uma coisa que me fez lembrar, daquela mesma cobrança que meu pai havia feito no passado. Ela – a tia – questionou se eu havia levado alguém para a casa dela durante uma viagem que ela fizera para o interior. Tímido e envergonhado fui conversar com minha prima sobre a indagação de sua mãe. Contei a ela que eu apenas tinha aberto uma camisinha para ver como era, pois na semana anterior ela mesma – a prima – tinha ido comigo para compra pela primeira vez uma camisinha e ela viu o quanto eu tinha ficado constrangido com a situação. Minha prima sabia que eu ainda era virgem e imediatamente chamou sua mãe para conversarmos sobre o fato.
Em outubro de dois mil e um eu fui morar no interior do estado de Goiás, morei com meus avôs por três anos, naquela cidade tive três namoradas uma inclusive quase me tornei noivo, mas acabei mudando para Goiânia – Capital do estado – antes do fato se consumar. Chequei em Goiânia no fim de Dezembro de dois mil e quatro, e morando com parentes tive meu primeiro contato sexual aos vinte anos de idade. Era uma moça simpática de outro estado e eu sabia que ela ia embora ao dia seguinte. Mas desta vez eu não criei barreiras para evitar o que estava prestes a acontecer e aconteceu. Sem muitas expectativas, sem traumas, foi algo bom, mas ainda tinha uma coisa que eu tinha de fazer, eu precisava tirar qualquer margem de duvidas da minha cabeça.
Em uma sala de bate papo na internet, conheci uma pessoa que depois de longas conversas virtuais, decidimos nos encontrar. Foi algo rápido, apenas um beijo e mesmo não aceitando eu já sabia que era aquele o meu destino, eu era realmente homossexual e isto não tinha como eu negar mais pra mim. No fim de semana encontrei com uma prima e confidente e então, disse a ela: “Prima, tenho que te contar uma coisa,” ela rapidamente disse: “Sim, diga” eu mais que de pressa disse de uma vez só: “Eu sou homossexual!”. Ela foi categórica e nem mesmo parou de arrumar as unhas que estava arrumando, apenas levantou a cabeça e disse: “Isso eu e a família toda já sabe!”.
Então todos os meus medos de minha família virar as costas pra mim, de meu pai não aceitar, de eu ter de viver sozinho no mundo, tudo isso de repente não existe mais. Foi bom, mas foi como se tivessem tirado o chão de debaixo dos meus pés, pois eu me preparei pra enfrentar o pior e quando ela falou com tanta convicção me jogou no chão, desmontou a minha armadura, foi como se eu tivesse construído uma muralha entorno de mim, mas que de repente aquela muralha que eu pensava ser algo indestrutível, tudo aquilo não passava de uma muralha de areia, que com um sopro veio por terra.
Em março de dois mil e quatro, eu fui morar com um primo terceiro, neste período eu tive meu primeiro relacionamento, durante uma festa na casa deste meu primo um tio me questionou sobre minha orientação sexual, eu logo de antemão disse que se ele estava me fazendo tal pergunta é por que estava preparado para ouvir a resposta. Assim eu o fiz, disse que sim que eu gostava de homens e que, no entanto eu não queria que ele contasse a ninguém, pois era um direito meu contar ou não a quem eu queria que soubesse.
Duas ou três semanas depois, minha prima me fez uma ligação dizendo que o tio – Aquele que eu tinha dito para não contar nada a ninguém – teria contado para a mãe dela, ou seja, minha tia de Goiânia já era a terceira pessoa a ficar sabendo. Decidi contar para quem eu devia satisfação, e então liguei para meu pai porem não falei diretamente com ele, pois estava trabalhando, disse para minha mãe – madrasta (não gosto de chama lá por este termo) – que eu iria para casa no fim de semana próximo para dizer ao meu pai que eu era homossexual, logo ela compreendeu que de certa forma eu estava pedindo a ela que dissesse a ele, talvez para evitar o choque do momento.
Como Deus escreve certo por linhas tortuosas, naquele fim de semana não tive como ir por ter trabalhos de faculdade para fazer, e no sábado à noite liguei para dizer que não teria como ir, falei com minha mãe – madrasta – que não teria como e que eu iria ao outro fim de semana, ela me disse que meu pai queria conversar comigo ao telefone. Ao pegar o telefone meu pai foi direto e disse que eu poderia contar com minha família, pois ali era meu porto seguro, neste momento eu me desmontei aos prantos, pois a pessoa que eu jamais imaginei que fosse compreender o que estava acontecendo era exatamente quem estava me estendendo não só a mão, mas me abrindo os braços.
E é assim, de braços abertos que meu pai, meus irmãos e minha mãe me receberam no fim de semana seguinte, me acolheu. Ali eu vi que não tinha por que ter tido tantos transtornos, não era preciso ficar com tanto receio, não era preciso tamanho desconforto, era preciso sim ter coragem para enfrentar o mundo como ele é. Sem mascaras, sem personagens, sem motivos para me envergonhar de ser como todo mundo, simples, verdadeiro e humano. Fica aqui o meu conforto a todos que um dia se encontrarem na mesma situação que eu, sejam vocês mesmo, sejam verdadeiros com vocês mesmos. Amem!